Você já parou diante de um viaduto?
Angústia da corda apertando o seu pescoço
Qual é a dose certa da overdose?
Onde queimaduras e cortes não superam a dor
Onde acordar mais um dia lhe deixa puto!
E você e eles não entendem o porquê de todo o alvoroço
Aguentar tudo é que é dose!
Bagunça toda a sua vida de um jeito avassalador
Onde viver não tem mais sentido
Onde tudo perde a graça, a vontade
Onde o jardim não tem mais cores e o céu mais brilho
Você não liga mais pro banho que esqueceu de tomar
Os pratos que se avolumam na pia desmedido
Só dormir lhe basta não importa a tempestade
Ou quando não consegue dormir porque saiu do trilho
Porque sua vida não consegue retomar
Onde o dia é apenas um amontoado de dias
Viver morrendo cada dia
Apagar é a única forma de parar de doer
Esquecer por um momento que a dor tá sangrando, lhe consumindo, destruindo
Onde lhe dizem vai ler um livro, caminhar, fazer coisas sadias
Onde todos lhe olham medindo sua falta de fé, sua loucura ou covardia
Afastar tudo e todos você vai conseguindo
Onde você tentou falar com espíritos, orixás e Nossa Senhora
Mesmo não tendo fé suficiente
Mas só queria escutar a voz dela
Saber se tudo seria diferente
Como se perdoar se você não consegue esquecer o momento a hora?
Onde não basta ser apenas resiliente
Onde você não consegue superar a culpa a falta dela
Onde até o escuro lhe parece coerente
Falam parecendo que é fácil como uma receita
Esquecendo que não é porque você quer, você é assim
E das coisas mais vis e abjetas que ela lhe sujeita
Onde chorar no escuro pode sim
Até à espera da dose certa
Onde não há luz no fim do túnel que lhe acerta.