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domingo, 20 de abril de 2014

Íntimos. - Capítulo 17.



5ª Parte - O fim.

Mariana Braga Venturossa. - 2003  -22 anos.

Júlia e Pedro sentados no chão, tomando cerveja, seminus, em cada canto da casa. Tudo desarrumado, a janela aberta, era dia. Júlia perto do telefone, estava abatidos.
-O que será que houve com ela? - Júlia.
-Ela vai bater aí, com aquele mesmo jeito dela, e vamos nos arrepender de ficar assim.
Júlia começa a rir.
-Verdade... Eu amo ela.
-Eu também. Ela é feliz você acha?
-Acho que ela perdeu a noção do que é ser feliz ou triste.
-Ela disse que quer morrer jovem, pra assim ficar jovem pra sempre, linda...
-Será que ela está sentindo dor, frio... Solidão? - chorando.
-Não sei. Com Mariana não dá pra saber. Acho que até pra morrer, ela morreria de supetão, sem anúncios.
Júlia enxuga as lágrimas com as mãos.
-Esse bate papo foi por um caminho chato, não gosto de falar de morte.
-Você quer morrer como Júlia?
-Vivendo.
O telefone toca.
Uma semana atrás....
Júlia e Pedro procurando Mariana no beco como de costume,  o endereço de Mariana atualmente.
-Vocês viram essa moça aqui?
-Não.
Alguns respondem, outros não.
-Tia, me dê dinheiro, tô com fome. - Um menino.
-Você a viu por aqui esses dias?  O nome dela é Mariana.
-Não tia. Não vai me dá dinheiro não?
-Ai!
Ele puxou o relógio dela e saiu correndo.
-Vamos sair daqui. Ela não tá aqui.
-Espera Pedro, alguém tem que saber notícias dela. Eu mato Mariana, juro por Deus.
-Você está bem?
-Esse calor, é só mal estar. - ela bebe água.
-Você está grávida. Devíamos procurá-la nos hospitais... No IML.
-Ela tá viva! Viva! Entendeu? E a mãe dela que não retorna a ligação, não atende.
-Eu soube que vocês estão procurando alguém.
Um homem se aproxima.
-É essa aqui. - Pedro mostra a foto.
-Sabe de alguma coisa? - Júlia.
-Talvez. Quanto vai custar?
-Dá o dinheiro Pedro.
Pedro olha pra ela.
-Vai Pedro!
Pedro entrega o dinheiro.
-Ela estava aqui até semana passada, depois sumiu. Ficava naquele canto. - aponta -Podem ir lá confirmar.
-Foi pra aonde?
-Ai não sei.
Se retira.
-Pode ser mentira, são todos viciados. Podem até dizerem que viram Jesus.
-Não seria mal, até eu, tô querendo vê-lo.
Depois foram pro apartamento de Arthur, o ex-namorado de Mariana, ele atende, estava ofegante, enérgico, visivelmente se via que ele usou droga tem pouco tempo, ou estava usando.
-Bom dia, somos amigos de Mariana, desculpa incomodar... Ela sumiu, não temos notícias. - Arthur funga o nariz e mexe no nariz - E pensamos  que talvez você tivesse...
-Ela teve aqui? Ou está aqui? - Júlia interrompe.
-Não, não tenho notícias dela, terminamos o que tínhamos... A última vez que a vi... - ele para, tosse. -Foi pra entregar as coisas dela.
Desgraçado como pôde deixá-la sozinha?! - Júlia chorando vai em cima dele.
-Júlia! - Pedro a segurando.
-Eu já me dou muito trabalho pra me preocupar com os outros.
-Obrigado. - Pedro.
Arthur bate a porta.
-Vamos pra casa. - Pedro. -Não comemos nada até agora.
-Não, vamos até o local onde ela pega a droga, eu sei onde é.
Eles sobem, passam por moradores com medo, outros felizes, pobres, outros bem armados, outros com fé, crianças soltas, crianças presas. Perguntam pela caverna  do Zé Torto, uns desconversam, outros aconselham, outros dão a direção.
-Bom dia.
-Bom dia.
-Zé Torto?
-Não, Nóia.
-Zé Torto sou eu. O que querem?
-Notícias de nossa amiga. - dão a foto  de Mariana.
-Polícia?
-Não, eu tô grávida. Eu só estou aqui porque estou desesperada, não temos notícias dela há dias.
-Ela tá devendo uma grana. Maluquinha a garota. Teve aqui uns dias atrás pedindo, não dei.
Júlia abre a bolsa.
-Esse colar era da minha avó, deve tá valendo em torno de 2 mil reais.
Ele pega o colar.
-Acompanhe eles Nóia até lá embaixo, não deixe ninguém mexer com eles. Só me respondam uma coisa. Por que não desistiram?
-Eu tive alguém que desistiu de mim, você também deve ter tido.
-As vezes não tem jeito, quando nós mesmos desistimos de nós mesmos.
Depois foram para os hospitais, o IML e por último a delegacia.
-Vocês são o que dela?
-Moramos com ela. - Pedro.
-Vocês estão preparados que podem encontrá-la morta? Ainda mais que ela tá devendo.
-Ela tá viva. - Júlia.
-Isso é o que a senhora quer. Vamos começar a procurá-la.
-Como?! Quando?! Onde?!
-Quando tivermos homens pra isso. Eu faço o meu trabalho senhora, a você só resta esperar. Já foram procurar no IML?
-Ela não tá morta! Esperar?  - rir -Vocês não tem noção de quanto mais tempo passa menos tempo temos? -chorando.
-Eu sei que é difícil, mas é só isso que tenho para oferecer. Não é só Mariana desaparecida. Tem Sérgios, Camilas... Flávias... Famílias... Pais, mães, companheiro, filhos que também  não sabem mais o que fazer... A quem recorrer. Ela já sofreu alguma internação ou intervenção?
Júlia levanta e atende o telefone, a notícia era que Mariana foi encontrada, era terça-feira de carnaval, Mariana estava morta.
-Ela foi encontrada morta no chão, num dos circuitos da folia de rua, morreu provavelmente no sábado, pois foi encontrada no domingo por garis, que chamaram a polícia, foi pisoteada... - Júlia começa a chorar - estava quase sem roupa. A causa de morte a princípio foi parada cardíaca. Sinto muito.
-Onde ela está? Quero vê-la.
A levam até a sala onde Mariana foi colocada com outros corpos esperando alguém para serem identificados. Júlia se aproxima, não querendo ainda acreditar.
Começa a chorar ao ver o rosto dela. Começa a bater nela, a dá tapas.
-Por quê? Idiota... Filha da mãe! Por que foi morrer desse jeito? Por que me deixou? Por que você fez isso com você? - senta no chão, segura a mão dela. - Te amo tanto. - se ajoelha, alisa o rosto dela. -Sentiu dor? Frio? Solidão? Desculpa... O que vai  ser de mim sem você, Mari? - Se abraça ao corpo dela se lembrando dos momentos que passou com ela, um filme agora sem continuação. - Arhr! - apertando o corpo dela.
Pedro entra, se abraça a Pedro, escorregando pelo corpo dele.
-Ela tá morta Pedro. Tá morta.
Ela no fundo sabia que Mariana estava morta.
Agora vinha a parte mais difícil, comunicar aos pais de Mariana , Pedro ficou fora, Júlia entrou, Branca foi quem a recebeu.
-Então é isso vocês vieram pra trazer a minha filha morta? Morta! E querem que eu fique com esse corpo que não reconheço. Eu quero a minha filha. - chorando, Júlia também chorando. -A minha menina. Assassinos! Vocês a mataram! Me trouxeram  uma filha morta!
-Sinto muito.
-Sente muito? Quem vai trazer de volta as noites que não dormir... Os nossos passeios, os nossos momentos que eu não lembro quando cessaram. - ela senta - Vocês tiraram ela de mim, a droga tirou ela de mim.
-Se eu soubesse como terminaria, eu juro, juro que desejaria não a ter conhecido, ou chamado para morar com ela . Mesmo que isso me custasse tudo que passei com ela. Me perdoa.
-E quem vai me perdoar? Agora saia, já trouxeram o corpo, eu vou enterrar uma filha, você não tem noção que dor é essa. Mas a minha filha morreu há muito tempo. Saia!.
Júlia sai e se abraça a Pedro.
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Augusto Venturossa senta ao lado de Branca com uma xícara de chá.
-Mandei fazer pra você, camomila, você está calada faz tempo.
-Tô tentando lembrar onde errei, em que momento ela deixou de ser aquela menina.
-Talvez ela sempre foi essa menina e você não quis ver.
-A culpa é sempre da mãe.... Mãe é chata! Mãe não pode errar, mãe sempre pro filho sempre faz tudo errado. Mãe é... sempre boba, que perdoa, ouve tudo calada, se conforma. Ama incondicionalmente. Eu não quero chá nenhum. Você sempre tiveram segredinhos pra mim, sempre esconderam  um pouco de vocês. Não se importam quanto sofra em saber o quanto  não confiam em mim. - ela olha pro relógio no pulso, rir - Há quantos anos não jantamos todos juntos? Não importa mais, não vamos mais. - chorando, segura na mão do marido - Por favor, confia em mim. Me diga pelo amor de Deus o que me esconde. É outra? Eu sei que é alguma coisa. Eu sou sua mulher há anos.
Augusto enxuga as lágrimas dela.
-Eu vou subir, quando chamá-la suba também.
Ele sobe, passa alguns minutos.
-Pode vim!
Branca sobe devagar, não soube bem o porquê, para diante da porta, respira fundo, toma coragem, abre a porta. Estava lá de costas, não dava pra acreditar, ele se vira, estava num vestido todo brilhante, usando um salto alto plataforma, maquiado, com uma peruca loiríssima.
-Apresento Álvara.
-Por que você fez isso comigo?!
Ela começa a bater nele.
-Eu nunca te trair! - grita com ela, segurando os braços dela - Eu te amo, sempre te amei, e vou sempre te amar. Não tenho nada com outra mulher... Nem com outro homem.
-Isso não é normal. Isso é uma aberração, isso não está acontecendo comigo. Eu não sei nem que nome dá a isso, o que dizer. Por quê?
-Não sei. Eu já me perguntei. Já tentei psicólogo, falar com Deus, remédio. Eu gosto, simplesmente gosto.
-Meu Deus nem tudo o que se gosta pode-se fazer! Você acha que gosto de fazer sala pro seus amigos? De organizar a casa, os horários, de preparar festas? Por que nunca me contou?
-Ai como você reagiu. Eu tinha medo que você jogasse anos de casamento devido a isso.
-E você trocaria o casamento por isso?
-Eu largaria tudo por você, mesmo sabendo que uma parte de mim ficaria infeliz. Nem eu entendo, como posso pedir a você que você entenda.
Ele liga o som, toca uma serenata.
-Lembra dessa música?
-Lembro, tocou no nosso primeiro encontro, no nosso casamento.
-Lembra o que lhe disse?
-Que nunca iria me fazer sofrer, me decepcionar.
-Desculpa por não ter cumprido. - a abraça.
Começam a dançar, ela afasta ele.
-Eu te amo com calças, de salto, de qualquer jeito. - fala ele.
-Me dê tempo pra me acostumar  com ... a Álvara. O que me dá raiva... é que você está tão bonita. - rir.
E voltam a dançar, como no dia em que se conheceram, se conhecendo.
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